quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

“Hoje o gás falhou”, disse a senhora Suzete

A dona Suzete é a nossa empregada. Depois do bom dia, por favor passe esta camisa perguntei se sabia o que podia ter acontecido com o fogão, porque gastei meia caixa de fósforos (o habitual) e nada de fogo. Simplesmente “hoje o gás falhou, doutor”.
Como é que o gás falha sendo que Angola está entre as maiores reservas petrolíferas da África?
{[(Como?)]}
Acho que sábado passado, quando fomos ao Sangano, deve ter ocorrido algo com as tubulações do gasóleo também, porque em três contetores seguidos não havia combustível e o carro foi na reserva pelas curvas do rio Kwanza.
Sobre o problema de hoje prefiro entender que a tubulação estava avariada. E assim segui o dia, sem café, reuniões sem fim e almoço depois das 15 horas.

Leituras I

E eu que comentei com o Rodrigo que este ia ser o ano dos russos, acabou virando salada geral (ou o arrastão da estante). Vieram na mala (o enriquecimento pesa!) o Salman Rushdie, a biografia do Tim Maia, a Família Real, o Caetano Veloso e o Che Guevara (não necessariamente nesta ordem), uns “english books” e o Ítalo Calvino e “As Cidades Invisíveis”. Este é o próximo da lista, porque a Camila, arquiteta, urbanista e académica disse que o autor vagueia sobre as cidades e a sua (des)ordem e eu preciso mais que ordenar para continuar flanando por aqui.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Desterro

"Ai, terras negras d’África,
portos de desespero...
— quem parte, lá vai cativo;
— quem chega, vem por desterro."
(Cecília Meireles, Romanceiro da Incofidência)
Há dias que tento escrever quaisquer linhas nestes blog, tarefa árdua esta: ou porque estou sem conexão no apartamento, ou porque estou ocupado com compra de supermercado ou pelo cansaço, adaptando-me ao fuso horário. Assim,

depois de muita espera, despedidas, ida e vindas, malas atrás da porta e a ladainha que todos conheceram África, Angola, Luanda, isto é, terras distantes e já navegadas, concretizou-se e consegui embarcar no dia 22 de Janeiro, 16 dias depois do previsto. O voo foi razoavelmente tranquilo, o tópico merece desmembramentos futuros etc etc etc.

Lá de cima Luanda começou por sua península arenosa, inabitada e esverdeada, “a Ilha”. Logo, o contraste: o tão lido e esperado musseque – quilómetros de blocos de concreto empilhados e arrematados por folhas de alumínio presas por pedras. Li que em alguns moram mais de 20 pessoas e cresceram após as guerras de descolonização e civil. Planejamento zero, ruas de terras, esgoto a céu aberto e eletricidade pilhas rayovac óleo qualquer e outros pormenores. Planejo aventurar-me por estas bandas, para fins de estudo do meio. Do alto Luanda pareceu-me um musseque sem fim.

Depois, em terra firme – ou nem tanto, cutucaria Cassandra – a saída do aeroporto. Muito quente, muito anofelino, muita gente pedindo pouco e vendendo de tudo, onde está o repelente e a placa com meu nome nas mão do motorista, o senhor Constantino. “Bom dia”, “obrigado sim” retrucou o motorista e todos que viriam após. Congestionamento interminável, ambulantes oferecendo itens de a a zê, as mulheres africanas com suas cestas na cabeça, a mulher não só com a lata na cabeça e também a criançada barriguda nas costas, desfilando todas as cores nos vestidos e nas batas e nos cabelos.

Duas horas ou 10 quilometros depois chegamos ao condomínio, apartamento razoável, café da manhã preparado pela Sónia e pelas meninas (a enfermeira chefe e as enfermeiras do Projeto). Banho merecido e aguardado. Sem água, o senhor do condomínio resolveu trocar a água da piscina.

Saímos para almoçar, mais hora e meia, garoazinha fina, inundação da cidade, baldes recolhendo água da chuva nas ruas, crianças tomando banho, brincando, simplesmente pulando nas poças, chuva, intransitável andar por estes lados.

Chegamos ao escritório, prédio sem reparação, edifico de quatro andares, no térreo loja da Hugo Boss. (Parece que o capitalismo tende a ser selvagem por aqui). Papéis, celular, computador novo, ansiedade para ler emails ou qualquer notícia.
Fim do primeiro dia. Cansado. Muita informação para processar. Preciso organizar as ideias. Outras postagens menos inspiradas mas com tintas locais breve. Assim que o satélite passar por aqui e permitir um bom sinal. Saudades de todos.

A miséria é muito triste.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Telegrama

Tristes trópicos por estes lados.
Cheguei bem.
Mando notícias pausadas breve.
Saudades de todos.


quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Visto ordinário

"(...) O tempo, o tempo é versátil, o tempo faz diabruras, o tempo brincava comigo, o tempo se espreguiçava provocadoramente, era um tempo só de esperas, me guardando na casa velha por dias inteiros (...)"

Raduan Nassar, Lavoura Arcaica

sábado, 5 de janeiro de 2008

Angola - Primórdios

Zumbi
(Jorge Ben / Caetano Veloso)

"(...) Eu quero ver
Angola
Congo
Benguela
Monjolo
Cabinda
Mona
Quiloa
Rebolo (...)"


Procuro no mapa, umas são fáceis de localizar, outras devem ter sido rebatizadas depois de muitas e nenhumas revoluções. Mas estão todas lá, certamente. Resta descobrí-las.