"Ai, terras negras d’África,
portos de desespero...
— quem parte, lá vai cativo;
— quem chega, vem por desterro."
(Cecília Meireles, Romanceiro da Incofidência)
Há dias que tento escrever quaisquer linhas nestes blog, tarefa árdua esta: ou porque estou sem conexão no apartamento, ou porque estou ocupado com compra de supermercado ou pelo cansaço, adaptando-me ao fuso horário. Assim,
depois de muita espera, despedidas, ida e vindas, malas atrás da porta e a ladainha que todos conheceram África, Angola, Luanda, isto é, terras distantes e já navegadas, concretizou-se e consegui embarcar no dia 22 de Janeiro, 16 dias depois do previsto. O voo foi razoavelmente tranquilo, o tópico merece desmembramentos futuros etc etc etc.
Lá de cima Luanda começou por sua península arenosa, inabitada e esverdeada, “a Ilha”. Logo, o contraste: o tão lido e esperado musseque – quilómetros de blocos de concreto empilhados e arrematados por folhas de alumínio presas por pedras. Li que em alguns moram mais de 20 pessoas e cresceram após as guerras de descolonização e civil. Planejamento zero, ruas de terras, esgoto a céu aberto e eletricidade pilhas rayovac óleo qualquer e outros pormenores. Planejo aventurar-me por estas bandas, para fins de estudo do meio. Do alto Luanda pareceu-me um musseque sem fim.
Depois, em terra firme – ou nem tanto, cutucaria Cassandra – a saída do aeroporto. Muito quente, muito anofelino, muita gente pedindo pouco e vendendo de tudo, onde está o repelente e a placa com meu nome nas mão do motorista, o senhor Constantino. “Bom dia”, “obrigado sim” retrucou o motorista e todos que viriam após. Congestionamento interminável, ambulantes oferecendo itens de a a zê, as mulheres africanas com suas cestas na cabeça, a mulher não só com a lata na cabeça e também a criançada barriguda nas costas, desfilando todas as cores nos vestidos e nas batas e nos cabelos.
Duas horas ou 10 quilometros depois chegamos ao condomínio, apartamento razoável, café da manhã preparado pela Sónia e pelas meninas (a enfermeira chefe e as enfermeiras do Projeto). Banho merecido e aguardado. Sem água, o senhor do condomínio resolveu trocar a água da piscina.
Saímos para almoçar, mais hora e meia, garoazinha fina, inundação da cidade, baldes recolhendo água da chuva nas ruas, crianças tomando banho, brincando, simplesmente pulando nas poças, chuva, intransitável andar por estes lados.
Chegamos ao escritório, prédio sem reparação, edifico de quatro andares, no térreo loja da Hugo Boss. (Parece que o capitalismo tende a ser selvagem por aqui). Papéis, celular, computador novo, ansiedade para ler emails ou qualquer notícia. Fim do primeiro dia. Cansado. Muita informação para processar. Preciso organizar as ideias. Outras postagens menos inspiradas mas com tintas locais breve. Assim que o satélite passar por aqui e permitir um bom sinal. Saudades de todos.
depois de muita espera, despedidas, ida e vindas, malas atrás da porta e a ladainha que todos conheceram África, Angola, Luanda, isto é, terras distantes e já navegadas, concretizou-se e consegui embarcar no dia 22 de Janeiro, 16 dias depois do previsto. O voo foi razoavelmente tranquilo, o tópico merece desmembramentos futuros etc etc etc.
Lá de cima Luanda começou por sua península arenosa, inabitada e esverdeada, “a Ilha”. Logo, o contraste: o tão lido e esperado musseque – quilómetros de blocos de concreto empilhados e arrematados por folhas de alumínio presas por pedras. Li que em alguns moram mais de 20 pessoas e cresceram após as guerras de descolonização e civil. Planejamento zero, ruas de terras, esgoto a céu aberto e eletricidade pilhas rayovac óleo qualquer e outros pormenores. Planejo aventurar-me por estas bandas, para fins de estudo do meio. Do alto Luanda pareceu-me um musseque sem fim.
Depois, em terra firme – ou nem tanto, cutucaria Cassandra – a saída do aeroporto. Muito quente, muito anofelino, muita gente pedindo pouco e vendendo de tudo, onde está o repelente e a placa com meu nome nas mão do motorista, o senhor Constantino. “Bom dia”, “obrigado sim” retrucou o motorista e todos que viriam após. Congestionamento interminável, ambulantes oferecendo itens de a a zê, as mulheres africanas com suas cestas na cabeça, a mulher não só com a lata na cabeça e também a criançada barriguda nas costas, desfilando todas as cores nos vestidos e nas batas e nos cabelos.
Duas horas ou 10 quilometros depois chegamos ao condomínio, apartamento razoável, café da manhã preparado pela Sónia e pelas meninas (a enfermeira chefe e as enfermeiras do Projeto). Banho merecido e aguardado. Sem água, o senhor do condomínio resolveu trocar a água da piscina.
Saímos para almoçar, mais hora e meia, garoazinha fina, inundação da cidade, baldes recolhendo água da chuva nas ruas, crianças tomando banho, brincando, simplesmente pulando nas poças, chuva, intransitável andar por estes lados.
Chegamos ao escritório, prédio sem reparação, edifico de quatro andares, no térreo loja da Hugo Boss. (Parece que o capitalismo tende a ser selvagem por aqui). Papéis, celular, computador novo, ansiedade para ler emails ou qualquer notícia. Fim do primeiro dia. Cansado. Muita informação para processar. Preciso organizar as ideias. Outras postagens menos inspiradas mas com tintas locais breve. Assim que o satélite passar por aqui e permitir um bom sinal. Saudades de todos.
A miséria é muito triste.
Um comentário:
Li seu primeiro relato mais aprofundado sobre impressões de Angola. Senti odores dos Sertões, de Euclides. Esse inundar de primeira vista, essa vontade de abstrair um concreto duro. Mas te conhecendo como te conheço, fiquei imaginado como seria esse texto saído num jato, sem freio e sem censura... Como seria o seu jato de instintos, impulsos e reações não digeridas de um príncipe! Se quiser, naliz, faz e manda pra mim (por e-mail). Saudades.
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