sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Todas as tardes na Rainha Ginga

Todas as tardes, na Rainha Ginga, da janela do prédio antigo e desbotado e sórdido, vê-se um grupo de angolanos a disputar partidas sem fim de futebol. Não se trata do Estádio da Cidadela, mas de um estacionamento desactivado de outro prédio imemorial. As regras são as mesmas e não há perdedores, afinal de contas, sequer há limites precisos do meio de campo ou das linhas laterais: todos vencem. Afinal, a disputa é entre irmãos. Desta mesma janela avista-se, por entre o relevo de prédios não menos imemoriais e devorados por uma legião de guindastes que reerguem Luanda, o Museu das Forças Armadas. Nenhum pôr-do-sol é tão intenso quanto estes de África e vistos por esta janela. O céu rapidamente fica alaranjado misturando-se ao azul e escurecendo agressivamente Luanda Baixa (e é porque hoje também falta electricidade). As zungueiras levantam suas bacias e amarram suas crias no dorso. Amanhã os tomates serão espalhados novamente no chão e custando 100 kwanzas a dúzia.


– “É que eu frequento esta janela. Há também a ENDIAMA (polishing lives with diamonds / Angola polishing diamonds / diamonds are a girl´s best friend / as Lundas, quantas vidas, isto aqui vai virar um soneto!) os geradores na garagem abaixo ao das Línguas Nacionais e uma fresta de mar, entre outras turvações visuais”



4 comentários:

Unknown disse...

Mais que a janela (venezianas...) ao cair da tarde, a sacada! Reveladora. Com a brisa quente, do sol poente, aqui em África. Diferentes vistas, intuitos e percepções...
A mesma sacada da foto do “quem sou eu” ilustre blogueiro.
Sacada freqüentada aqui por poucos, e eu, espero não por muito tempo mais, ao menos não com tal fim. Estes e eu, não o ilustre, a encher o balde que apara a água do ambiente, e as guimbas. Não confundir cá com gambas, que vivem na água salgada. Será que a água do balde é salgada?! Para onde vão as guimbas?! E as gambas?! E a água do balde?!
Bom, só para dizer que existem mais coisas entre o céu e o mar... ...que podem ser percebidas desta sacada.
De outra sacada, ou melhor varanda, a brisa fresca da madrugada em Luanda. Insônia. Algumas guimbas, sem balde, mas aquela noite... o eclipse lunar! Acaso ou não, total aqui na costa oeste e em Porto Velho. A família e eu, contemplando com cinco horas de diferença a mesma lua. Ela apagou, eu em seguida, lá ainda era cedo, possivelmente viram acender novamente, enquanto cá amanhecia, e eu enfim dormia.
Para logo despertar para outro dia...
O próximo... em 2010.
A próxima sacada... a qualquer momento!

Anônimo disse...

aaahhh, joão... cada vez que leio seus posts, me sinto presenteada por palavras deslizantes, por seu olhar cuidadoso, pela atmosfera onírica...
e imagino eu, vc e a fer, sob a sombra da árvore que abre seu blogue, fazendo um pique-nique, conversando empolgadamente, sorrindo e rindo...
nessa fantasia, até as desajeitadas conversas a três ou quatro no skype (eu, sem os equipamentos necessários!!!), ganham ares de um conto do realismo mágico... bjs...camila

Anônimo disse...

jonny rivers,

hoje ouvi Mariana Ayadar..ai a saudade apertou.....demais da conta!
Varanda palavra de antropologo, sabia?
Antropologos mudaram a perspectiva do olhar....moveram-se da varanda para o campo....o olhar distanciado da varanda deu lugar ao olhar do campo.....a sensibilidade passa a permear a ciencia.
Nestes momentos invejo sua experiencia de viver o campo!!!
Beijao com imensa saudade!
Fer

Anônimo disse...

Amei esse tópico, vc realmente poderia publicar um livro, está ficando craque... Bjs e saudades Iv